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    UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE

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    Mensagem por Convidado Sáb Jun 27 2015, 21:37

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    Mensagem por Convidado Qui Jul 02 2015, 17:58

    UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE UMsHHxo

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    6 Meses. 6 Meses e 15 dias.

    Hoje fazem 6 meses e 15 dias que aqui estamos. Algures em Bluenation, junto ao mar, numa masmorra situada abaixo do laboratório onde fomos clonados. Abaixo dos tubos onde o nosso ADN se fundiu com a loucura de uma ideia e nos trouxe a vida de volta para tirarem-na de novo. Mas quando? Quando é que chega esse dia? Anseio-o. E até parece algo mórbido desejar o próprio castigo, mas nada é pior que isto. Nada é pior do que esta espera, do que esta tortura que nos consome a cada segundo que passa. Aqui, ninguém vive. Aqui sobrevivemos. Respiramos o ar uns dos outros mas desejamos não respirar mais. Piscamos os olhos desejando fechá-los para sempre. Aqui, preferimos a morte à vida. E que fizemos nós para merecer isto?

    A minha jornada na Casa da Fome 1 terminou no dia em que saltei com uma dinamite colada à mão para dentro da piscina. Explodi em mil bocados. Mas decidiram trazer-me de volta. Fui um dos selecionados. Pegaram no que restava de mim e construíram-me um novo corpo. E aqui estou. Condenado a entrar de novo no jogo mais horroroso de Aporue. Sou o Rafael, um dos 10 retornados.

    Há meio ano atrás fui anunciado como um dos retornados da Casa da Fome, e um dos 20 que preenche o elenco da 2ª edição do reality show mais famoso do continente. No entanto, a emissora de Sunnyland responsável pelo concurso, seguiu outros caminhos e deixou-nos para segundo plano. A Casa da Fome está na gaveta, pronta a começar quando lhes apetecer. Pode ser amanhã. Pode ser daqui a uma semana. Pode até demorar mais 6 meses. E nós, para não fugirmos, fomos presos nesta masmorra, condenados a esperar por esse dia. O dia em que vamos entrar para a outra prisão. Somos ratos de laboratório presos numa caixa à espera da hora da nossa dissecação.

    A cela onde estou é pequena demais para 10 pessoas. Dormimos praticamente amontoados uns nos outros, coisa que para uns é absolutamente horrível mas para outros é um deleito: Zé Miguel. Sim, para Zé, dormir encavalitado nas costas largas do Diogo é tudo menos tortura.

    À nossa frente, a cerca de 5 metros, está outra cela, com os 10 concorrentes novos. Esses estão piores que nós, desgraçados: Não entendem a razão de estarem fechados, nem sequer sabem que vão fazer parte da Casa da Fome. Gritam o dia todo, dominados pelo pânico, alucinados. Já tentei explicar-lhes, mas eles não me entendem! Mal digo “Casa da Fome” eles gritam de pavor: Não por saberem o que é, mas porque a palavra fome aterroriza-os.

    Sim, fome.

    Caraças, como eu tenho fome. Aqui alimentam-nos dia sim, dia não, de madrugada, com restos do refeitório do laboratório. Há 6 meses que me alimento de gorduras de bifes, espinhas de peixe e vegetais já mastigados. O que nos chega mal dá para uma pessoa, quanto mais para 10. Já para não falar que partilhamos a cela com o Kiko, que é literalmente um bisonte a comer. Muito gosta ele de comer... e no cú também.

    Sim. Aqui, o sexo, apesar do nosso estado, é regular. Bichas fechadas em cativeiro não se conseguem conter. Até podem estar mortas, mas estão sempre prontas para a pinada. Já perdi a conta ao número de vezes que acordei com a pila do Trufas a coçar-me a orelha, ou o saco dele a fazer-me cócegas no nariz. A Ana tem tanta sede de piroca que fez um vibrador com uns ferros e enquanto todos dormem ela estimula-se ali, com a réplica da pila do Robocop. A Selva está indecisa. Não sabe se há-de enfiar os dedos ou de bater punhetas, então faz as duas coisas ao mesmo tempo. Já apanhou três ou quatro torcicolos e tem o antebraço todo apanhado. As crises de identidade explodem nessas alturas íntimas. Então e o Zé? Monta-se em todos. Ninguém lhe quer saltar para cima porque corre um rumor de que ele tem herpes, então ele anda a esfregar-se em tudo o que mexe. No outro dia, juro que o vi a fazer olhinhos a uma ratazana.

    Sim, ratazanas. Baratas, aranhas, escaravelhos. Até cobras. Esta masmorra é a casa de bichas e de bichos. Uma combinação nada agradável: O Zé grita dia e noite cada vez que encontra uma formiguinha que seja e o Kiko, longe da macha forte que era na Casa 1, faz escândalos por qualquer coisinha. No outro dia ficou duas horas a chorar porque entrou uma borboleta na cela. Para além de que vivo sempre com medo que comecem os delírios de cada um dos concorrentes. A Ana grita para as paredes, as gémeas Alexi cospem-se uma à outra, e o Trufas sua-se todo durante o sono enquanto geme "Tove Lo, Tove Lo...".

    Preferia não ter sido escolhido. Não vejo a Casa da Fome como uma oportunidade. Vejo como um matadouro. Sei que não vou vencer. Não sou forte o suficiente nem inteligente o suficiente para fazer frente a tantas pessoas. Para além disso, na cela dos novos concorrentes esconde-se de certeza alguém com mais capacidades que eu. Se eu pudesse… fugia agora. Fugia desta masmorra e da Casa da Fome. Tenho saudades de ser livre.

    Os últimos raios de sol daquele dia iluminam as mamas suadas da Ana. Estão todos deitados. Esta hora deprime-nos. É como se nos lembrasse que mais um dia tinha passado e que mais um estava para vir. Ali, fechados.

    E o costume acontece: Um pequeno rato caminha junto à parede. Só eu reparo nele, pois sou o único alerta àquela hora. Ele vasculha nos cabelos da Ana, come quatro ou cinco piolhos e depois escapa por entre os ferros que nos prendem.

    Já chega. Foda-se! Chegou a altura de fazer o mesmo! Uma ideia forma-se no meu cérebro à velocidade da luz. Os pontos conectam-se dentro da minha massa cinzenta e rapidamente formo um plano fantástico. O plano que nos vai dar uma segunda oportunidade de viver. Vamos todos escapar da masmorra e da Casa da Fome. Agora.
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    Mensagem por Convidado Sáb Jul 04 2015, 22:35

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    UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE 1F0xm1B


    Não. Todos não! Que loucura…

    Três. Ou quatro, vá. No máximo. Não consigo fugir com tanta gente atrelada a mim. Ainda para mais com tantas personalidades insuportáveis. Como é que vou conseguir cumprir este plano tão arriscado com o Trufas a ser diva 24 horas por dia? Com o Zé Miguel e o seu desejo sexual descontrolado? Com o monstro de duas cabeças que são as gémeas? Impossível. Vou ter de escolher aqueles que considero mais “normais” e torna-los meus aliados.

    Olho em volta. Estão todos deitados, engalfinhados uns nos outros, suados. Que cheiro. Parece uma corrente de ar no rabo do Fernando Mendes. Começo a analisar cada um deles individualmente, tentando separar as bichas inúteis das pessoas normais. Mas aqui, nesta cela, há mais bicha ao quadrado do que nas noites de festa da espuma do Trumps.

    Pronto, o Jota ainda escapa. Apesar de nunca tirar a burka e de nunca lhe ter visto a cara, parece-me ser um gajo impecável. No outro dia o Ivo bolçou-lhe para cima e ele nem se chateou muito. E sim, o Ivo está fora de questão. É uma criança mas recuso-me a levá-lo ao colo durante a fuga. Lamento, mas vai ter de ficar aqui, eu não tenho cara de canguru. Já a Ana é essencial para o meu plano. Vai ter de vir comigo. A Selva, o Zé Miguel e o Diogo ficam e espero que morram de pneumonia. Não tenho paciência. O Trufas e as gémeas estão fora de questão. Sobra-me o Kiko. E a força dele vai-me dar jeito.

    Está então decidido. Eu, o Jota, a Ana e o Kiko vamos escapar desta masmorra e da Casa da Fome. Que se fodam os outros!

    - Jota – sussurro-lhe – Jota!

    Como se percebesse que eu queria uma conversa secreta, ele levanta-se devagar, caminha lentamente e vem até ao canto da cela, onde eu estou, sentado junto à parede.

    - Vamos fugir daqui – Digo-lhe.

    - Outro plano? Outra vez? – Diz-me – Quantas já foram as tentativas, Rafa? Usamos a hemorroida do Trufas para tentar abrir a porta. Tentamos arrombar as grades com as mamas da Ana. Até metemos o Diogo a dar graxa ao guarda, mas nem isso resultou! Estamos presos aqui. Lida com isso.

    Peguei-lhe no braço.

    - E seduzi-lo? Hum? Nunca tentamos seduzi-lo!

    - Seduzir quem?

    - O guarda! – Murmuro – A minha ideia é usar a Ana para persuadir o guarda a dar-lhe as chaves. Ela destapa uma mama, dá um flash de um mamilo, até pode fazer umas posições com o dildo do Robocop, ela é super flexível! – Lembro-lhe - Depois promete-lhe sexo. Diz que quer pinar com ele e pede-lhe para a soltar. E ela, zás! Ainda antes da penetração projeta-lhe com um peito mesmo no meio dos olhos, e ele desmaia. E aí escapamos.

    - Essa foi provavelmente a coisa mais estúpida que eu ouvi em toda a minha vida – Diz-me ele.

    - Então é porque nunca ouviste o Gustavo Santos a falar – Digo-lhe – Eu tenho a certeza de que vamos conseguir. Só preciso que me ajudes a convencer a Ana.

    - A convencer a Ana? A fazer o quê? – Grita-me o Zé Miguel.

    Foda-se.

    - Nada, Zé. Volta lá para a tua conchinha com o Diogo e deixa-nos conversar em paz – Peço-lhe.

    - Eles vão fugir! – Grita a Selva – Eu ouvi tudo! Eu ouvi tudo!

    - Fugir? Quem vai fugir? – Grita o Trufas – Eu também vou! Eu também vou!

    E o Ivo começa a chorar.

    - Vamos sair daqui? É isso? É? – Grita o Diogo – Posso recitar um poema sobre esta situação maravilhosa da nossa vida? Na cela trancados, o escuro, a penumbra, meu coração chora…

    E o Kiko acorda.

    - Então iam fugir e não nos diziam nada?! – Grita-me.

    Pronto, o meu plano rebentou. Agora vou ter que levar esta cambada de gente de merda às costas. Assim vai ser muito mais difícil.

    - Calma, caralho! – Grito – Já chega pá! Suas galinhas!

    Todos se calam perante o meu grito.

    - Eu tenho uma ideia que nos poderá pôr fora daqui. Pronto!

    Começam todos a falar ao mesmo tempo, entusiasmados.

    - Xiu! Caluda! Dass! Parecem as bichas do nésque em dia de revelação de listas! Acalmem! – Grito novamente – Para o meu plano resultar vou precisar da ajuda de todos e acima de tudo de muita discrição. O laboratório está cheio de guardas e 10 pessoas a fugir vai ser tudo menos fácil.

    - 11! Ou eu não sou gente só porque estou colada a esta gaja? – Diz Alexa.

    - Levas uma cuspidela no focinho que até andas de lado – Grita Alexi.

    - Ando eu e andas tu! – Grita Alexa.

    - Ó aberração, caluda! – Grito – O início do meu plano exige a competência máxima de um de vocês. Ana.

    - Eu já sabia que ia sobrar para mim. Vou ter que mostrar as mamas, não é?

    Subo para cima do ego do Diogo e lá no alto começo a dizer todo o plano.

    - Sim! A Ana vai seduzir o guarda e prometer-lhe sexo. Deliciado com tamanhos melões, ele vai abrir a cela, louco por sexo. Mas a Ana aplica-lhe uma golpada  no focinho com os ditos cujos e liberta-nos a todos.

    Sinto-me o líder dos retornados. Todos olham para mim, de olhos brilhantes, cheios de esperança.

    - Já livres da cela, vamos subir pelos canos até à rua.

    - Tinha que meter merda! – Grita o Trufas.

    - Cala-te que estás mais que habituado a andar por sítios estreitos que tenham cocó – Digo-lhe – Este plano é infalível. Juro-vos!

    Passo de salvador para gajo estúpido. Ninguém acredita que isto possa funcionar. Mas tal como todas as outras tentativas começadas por mim, todos aceitam ajudar. Qualquer oportunidade de escapar daqui, por mais idiota que pareça, é-lhes sedutora.

    - Ana, daqui a alguns minutos o guarda vem fazer a ronda, como sempre. Quero que estejas pronta. Passa um bocado da graxa do Diogo nas mamas, para elas ficarem bem luminosas e apetecíveis – Peço-lhe – Quero todos bem longe da porta. A Ana tem que estar na spotlight.

    Ela rasga o decote, mete a saia para cima e prende o cabelo.

    - Já nasci pronta – Diz-me.

    Encostamo-nos todos à parede, prontos a dar à Ana todo o protagonismo. O guarda aparece, como todos os dias, pouco depois da hora do jantar. Costuma vir gabar-se do que comeu e arrotar perto de nós. Ficamos furiosos.

    - Olá meus ratinhos – Diz ele – Foi um bom dia na masmorra?

    A Ana não perde tempo. Encosta-se à cela e uma das mamas, repleta de graxa, desliza nos ferros e escapa por entre as grades e “ploc” vai parar mesmo ao pé do focinho do guarda, tocando-lhe com o mamilo na pontinha do nariz.

    Mas ele, para surpresa de todos, fica enojado.

    - Cruzes! Que horror! Que nojo! – Grita – Tu não és a my tipe of girl!

    Sim. Era o Bruno Sparks. Abortar plano. Abortar plano!

    - Então não gostas de uma boa prateleira? – Diz Ana, enquanto lambe os dedos – E esse mamilo teso, que tal?
    Não parece mesmo uma azeitoninha sem caroço? Podes trincar.

    - Que horror! Valha-me santa Swift! – Diz Sparks, a rezar.

    Eu já conhecia o Bruno Sparks. Só não sabia que ele fazia part-time nas masmorras de Bluenation. Percebi então que com a Ana, ele não iria ficar seduzido. Puxei-a para junto de mim e empurrei o Zé Miguel para a porta da cela. Era ele agora o protagonista.

    - Olá, querido – Disse o Zé, enquanto desabotoava a camisa de dormir de flanela – O que foi hoje o jantar? Queres uma saladinha de... tomate e pepino?

    Baixou as calças. E lá estava. O nosso santo graal.

    - Também tenho molho de iogurte, se quiseres - Diz Zé.

    Nem foi preciso pedir nada. O Bruno Sparks abriu a cela e puxou o Zé Miguel para fora. E ali, à nossa frente, pinaram como dois cães no meio da estrada. Se eu tivesse comida no estômago, teria certamente vomitado.

    No entanto o Zé, mais do que desejo de sexo, tinha desejo de fugir. E mal acabou o serviço, aplicou uma cabeçada em Sparks, que desmaiou de seguida. Abriu-nos a cela e escapamos todos para fora daquela terrível jaula.

    - Quero calma, pessoal. E silêncio. Por favor! – Pedi a todos.

    - Eu vou ficar – disse Selva – Não quero correr o risco de ser descoberto. Descoberta, pronto. Ainda nos fazem pior. Ainda nos matam e eu não quero morrer, sou muito nova! Novo. Olha, merda, não contem comigo!

    - Eu também quero ficar – Disse Kiko – Alguém vai ter de ficar com o Ivo.

    - Isso soou-me a pedófilo – Disse eu – Mas tudo bem. Tens razão. Eu vou tentar arranjar maneira de vos libertar também. Mas não vos dou certezas.

    Kiko pegou em Ivo ao colo e juntamente com Selva entraram de novo na cela. Tinham medo de fugir, medo de represálias. E eu não os julgava.

    - Pronto, restamos nós 7. Vamos passar à 2ª fase do nosso plano – Disse.

    - Então e nós?! – Gritou Filipe, da cela dos novos concorrentes – Vocês nem pensem que vão fugir e deixar-nos aqui!

    - Nós também vamos! – Gritou Tostas.


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    UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE Empty Re: UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE

    Mensagem por Convidado Seg Jul 06 2015, 20:54

    UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE SQ70Wtp

    UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE 9SIzY3r


    6 Meses. 6 Meses e 15 dias.

    Há 6 meses que aqui estou. Fechado nesta terrível masmorra, à espera que aconteça alguma coisa. Inscrevi-me na Casa da Fome porque queria fama. Eu quero é dar autógrafos, quero flashs dos paparázes no focinho e o meu nome na capa das revistas, com revelações polémicas, entrevistas exclusivas e fotografias glamorosas num casarão alugado na Quinta do Lago. Fama é tudo. Fama é estar vivo. Quem não tem fama não é nada. Não é ninguém.

    E eu sei disso muito bem. Sou uma bicha inteligente. Sou rara. Normalmente as bichas são burras como a puta que as pariu, só querem é arregaçar prepúcios e lamber tomatada. Mas eu não sou assim. Eu gosto de um bom estufador de cu mas também gosto de ser uma pessoa decente e de ter mais do que um triste neurónio. E sim, eu sei como vencer a Casa da Fome. É fácil.

    Metes uma televisão com a Eurovisão a dar no jardim. A piscina cheia de piranhas brasileiras. Chama-se o Rui Bandeira e escorre-se o azeite dele para a calçada. E zás, é só ligar a televisão que as bichas parecem chitas. Escorregam no Gallo, caem na piscina e metade morre por afogamento (bicha que é bicha só sabe conter a respiração quando se trata de sexo oral), e a outra metade é devorada pelas piranhas. E eu, de comando na mão, ganho aquela porcaria toda.

    Mas o meu plano também foi por água abaixo. Prenderam-me aqui com estes 9 cagalhões andantes e eu que me foda. Não os posso matar porque depois me matam a mim. Não os posso aleijar porque me aleijam a mim. Então que decidi fazer eu com eles? Liderá-los.

    Estão todos a meus pés. Fazem tudo aquilo que eu quero sem pestanejar. Eu sou o rei dentro destas quatro paredes.

    O Simmy ainda me tenta roubar o lugar de vez em quando mas eu estou sempre a mostrar-lhe onde é o lugar dele: No chão, com’ós outros. O Vítor e o Select passam o dia a falar dos espíritos que a masmorra tem. Dizem que têm visões. Quando na verdade sou eu que com o meu espelho da maquilhagem me meto a reflectir contra o tecto e eles passam-se. E eu cago-me a rir, claro está. O Pete cheirou-lhe a Kiko e anda que parece um macaco na puberdade. Pelo que oiço, na outra cela, o Zé Miguel está no mesmo estado.

    O Walter faz de tudo para esquecer o facto de estar fechado com tanta gente num sítio tão pequeno, então para não enlouquecer, faz yoga às quartas-feiras e às quintas pilates com as mamas da Marília. No resto dos dias faz meditação e até arranjou umas merdinhas de incenso que gosta de queimar. Bem, isso é o que ele pensa. Aquilo na verdade são bolotas de haxixe, mas eu nem digo nada porque é uma paz quando ele faz o fogareiro de droga e nós 10 ficamos com uma pedra do caraças durante 2 horas. É paz no seu estado mais puro.

    O Tostas, coitado, sofre de memória curta. Não há paciência.

    O Dinis é cego. Quanto estou aborrecido, digo-lhe assim: “Ó Dinis, apalpa lá aqui estas cebolas que nos trouxeram para o jantar, tenho a impressão de que já estão estragadas!”, ao mesmo tempo que lhe ponho as mãos entre as minhas pernas. Ele é muito cuidadoso, adoro. Parece que me estão a fazer um exame aos colhões no Hospital Garcia da Horta.

    E depois temos o Renato. Que é mudo. Ficou amnésico depois de o terem raptado para o pôr aqui e com o choque nem fala. Costumo cagar ao pé da cama do Vítor e depois acuso-o. Ele não tem como se defender.

    Uma autêntica caverna das bichas aleijadas.

    Mas hoje as coisas foram diferentes. Era de madrugada e vi o Zé Miguel a pinar com o mister colgate 2015 à porta da cela dos retornados. E depois saíram todos. E iam fugir. Sem nós.

    - Então e nós?! – Gritei eu – Vocês nem pensem que vão fugir e deixar-nos aqui!

    - Nós também vamos! – Gritou o Tostas.

    Dei-lhe uma chapada no alto da pinha.

    - Cala-te que eu trato disto.

    - Quem és tu? – Perguntou o Tostas.

    - Sou o teu cú enrabado que se revoltou e ganhou vida – Disse-lhe – Caluda.

    Estiquei o braço e trinquei o colarinho do Trufas.

    - Vocês não vão a lado nenhum sem nós!

    O grupo dos retornados começou a ficar nervoso. Eles sabiam que ia haver merda se eles não nos libertassem também. Eu ia começar a gritar à la Kaliopi style e em três tempos os guardas estavam todos cá em baixo a dar uso ao cacetete.

    - Mas é muita gente. É impossível! – Disse Rafa.

    - Deixam-se umas quantas bichas inúteis na cela e depois logo voltamos para as vir buscar – Disse, piscando-lhe o olho.

    Eu sabia que era impossível escapar com tanta gente atrás. Eu queria era salvar-me a mim. Quero lá saber dos outros.

    - O mudo, o stressado e a bicha ninfomaníaca ficam na cela – Ordenei eu.

    O Renato nem disse que sim nem que não. Arrogante pá! O Walter estava na sessão de lamaze para parir más energias e não me ligou, e o Pete estava a fazer amor com uma gaivota e não me deu ouvidos.

    - Tostas, tu também ficas – Disse-lhe.

    - Quem és tu? – Perguntou-me.

    - Sou a tua hérnia discal em forma de gente – Disse-lhe – Marília, já temos uma gaja com mamas grandes portanto não há piadas para ti. Tu ficas. Pronto… acho que o resto pode vir connosco.

    - Por favor, promete-me que vão ser discretos, Filipe – Pediu o Rafa.

    - Claro que sim! – Disse.

    Saquei do meu casaco de plumas, da minha capeline, maquilhei-me todo num ‘stantinho, sandálias da Prada para fugir dos guardas prisionais, com um salto discreto mas engraçado, calça justinha arreda o colhanito para a esquerda e para finalizar um Chanel Nº5 porque eu sou muito vintage.

    - Pronto, discreto – Disse-lhe.

    O Rafa revirou-me os olhos e abriu a nossa cela. Renato, Walter, Pete, Marília e Tostas ficaram lá dentro. Mentira. O Tostas esqueceu-se do combinado e já estava cá fora.

    - Mas eu disse-te que tu ficavas, ó mangas-de-alpaca – Disse-lhe.

    - Quem és tu?

    Agora revirei eu os olhos. Que fartura.

    - Pronto. Podes vir connosco. Mas se eu assim do nada te mandar com um canivete ao pescoço, não leves a mal.

    Éramos 13 agora. E seguimos caminho. E não sei se é do número ou do meu instinto feminino, mas estou certo de que não vamos escapar todos. Nem sequer metade.


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    Mensagem por Convidado Sex Jul 10 2015, 21:36

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    UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE X27QUmZ


    Após trinta discussões e três ou quatro puxões de cabelos, o grupo dos retornados e dos novos concorrentes chegou a um consenso. O plano inicialmente proposto pelo Rafa, de subir pelos canos até à liberdade, era uma autêntica merda. Literalmente. E eu fui contra isso. Decidimos então separar-nos em dois grupos. Ainda tentei puxar os mais fortes para o meu lado, como o Diogo, mas foi-me impossível: O grupo dos retornados segue sozinho, e nós, os novos concorrentes, traçamos também sozinhos o nosso próprio destino.

    Como manas zangadas, viramos costas ao grupo dos retornados e subimos rapidamente as escadas (menos eu, porque a porcaria destes tacões são terríveis para andar nos degraus) que nos iam levar à cave do laboratório. Sim, porque nós estamos no fundo do fundo do poço, tipo quando Bluenation levou Rebeca ao Nation Song Contest.

    - Tenho medo – Disse Simmy - E eu sou muito fraco de coração e ainda me dá praqui uma apendicite.

    - Todo um sentido – Respondi eu – Não te deixo voltar para a cela porque tu me vais dar imenso jeito. Se alguém tiver que fazer um cosplay da Simara assim de repente, tu serás certamente o escolhido. Até trouxe a peruca loira e um nenuco preto para fazer de filha africana.

    - E eu faço de quê? – Perguntou o Tostas, entusiasmado.

    - De olho do cu constipado – Disse eu – Nem precisas de nenhum adereço.

    Aquele lugar era estranhíssimo. Havia vários corredores, todos eles cheios de portas, algumas abertas. Eu não fazia a mínima ideia de qual delas nos poderia levar ao laboratório. Decidi seguir por um corredor que estreitava à medida que íamos avançando. Sempre ouvi dizer que as entradas mais difíceis são as mais prazerosas. Tive esperança ali.

    - Já não consigo respirar – Disse o Dinis – Lá se foi mais um sentido.

    - Cala-te e continua a segurar os pêssegos que eu trouxe para merendarmos – Respondi eu.

    Quais pêssegos qual quê. Eram os meus tomates suados.

    - Epá, já chega! Ainda por cima o Tostas peidou-se mesmo no meu focinho! – Disse Vítor – Isto não vai dar a lado nenhum!

    - Já comia uma tosta – Disse o Tostas.

    Íamos todos em fila indiana, até que tivemos de nos baixar e começar a rastejar pelo chão até ao final daquele corredor maldito. Que ideia estúpida, Filipe. Que ideia estúpida…

    - ‘Tás a ver alguma coisa, Filipe? – Perguntou Select.

    - Não, mas vocês são capazes de me ver o olho do cú porque rompeu-se-me a saia e eu hoje não tinha cuecas lavadas para usar.

    Até que a luz desapareceu e estávamos no escuro. Presos à parede estreita, em cima uns dos outros.

    - Ai porra, tira-me isso de cima! – Gritou o Simmy – Quem mandou ao Vítor trazer uma morcela? Vais fazer um cozido à portuguesa?

    - Isso não é morcela amigo, é o meu pénis que me escorregou pela batina abaixo. Desculpa, mas abaixei-me tanto que ele ficou de fora.

    - Mas o que é isto? – Gritou Select – Quem é que me está a mijar em cima?

    - Olá! Eu sou o Tostas!

    Mesmo no escuro mandei uma chapadona ao Tostas.

    - O que vai ser de nós? – Gritou Simmy – Epá, Vítor, tira-me essa merda de cima da cabeça!

    - E tu pára de me coçar o forro dos colhões como se nada fosse! Ou achas que eu não sei que és tu?

    - Sou eu Vítor – Disse Select – Sempre tive a fantasia de acariciar o santíssimo sacramento.

    - Ahaha! Agora fodam-se todos! – Gritou Dinis – Gozaram com a cega durante meio ano e agora estamos na mesma posição. Chupem!

    - Queres passar a dupla? Olha que eu arranco-te a língua! – Gritei.

    E ouviram-se os guardas ao longe.

    - Foda-se, façam pouco barulho – Pediu o Simmy.

    Os guardas vinham na nossa direção. Era o nosso fim.

    - Não dá para seguir? – Perguntou o Simmy – Vamos morrer! Vamos todos morrer!

    - Olha uma porta – Disse o Tostas – O que é uma porta?

    O manga-de-alpaca tinha as costas encostadas a uma pequena porta desde o início e não nos disse nada. Nem perdi mais tempo. Dei-lhe um pontapé mesmo nas mamas e ele deu três mortais encarpados no ar e foi parar ao pé do Dinis. Empurrei a porta, e para nossa sorte, ela estava aberta. E gatinhamos todos lá para dentro, onde o espaço era muito mais amplo e nos pudemos levantar. Onde estávamos? Não sei.

    - Agora calem-se. Se somos descobertos… - Disse eu.

    Para minha surpresa, conseguiram todos respeitar o que eu disse. Durante 10 segundos.

    - Ai! Porra! Enfiei qualquer coisa na vista! – Gritou o Simmy.

    - Cala-te! – Disse eu.

    Dei um passo à frente e embati com a barriga numa coisa mole, mas firme.

    - Foda-se! Puta que pariu! Quem é que foi contra mim? – Gritei.

    Mandei quatro cuspidelas de sangue para o lado e comecei a apalpar todos à minha volta.

    - Onde é que nós estamos? – Perguntou o Select – Sinto espíritos no ar.

    - Eu não sei onde estamos, mas por favor fiquem…

    Ouviu-se alguém a escorregar e a cair em algum sítio, secamente.

    - Ai – Gemeu Vítor – Escorreguei no teu cuspe e caí com o cú em cima de qualquer coisa. Senti um cutuco na próstata. Fui penetrado.

    Nesse momento, o Tostas, salvador, conseguiu achar um interruptor e ligou a luz daquela misteriosa sala.

    E eu fiquei de queixo caído.

    Aquela sala estava repleta de objetos sexuais, brinquedos atrevidos e dispositivos de prática sexual, tipo cadeiras com dildos incorporados, uma cama atolada de material BDSM, chicotes pendurados no teto, várias roupas altamente provocativas, lubrificante em tudo o que era lado, uma vitrine repleta de vibradores de todos os tamanhos, feitios e cores, do tradicional nude tamanho médio ao pila de queniano 50cm com extra estimulador de clitóris vibração 5 opções, ejaculador incorporado, fibra extra sensação, e até uma coleção de cockrings numa almofada junto à cama, que, sem querer ser má língua, cheiravam a sovaco de Beyoncé.

    Sentia-se a lubrificação natural das bichas a escorrer pernas abaixo. Ficaram logo com vontades.

    - Ninguém toca em nada – Pedi eu – Até vejo o herpes a dançar a machadinha em cima daquela cadeira!

    Encostei-me à parede. Eu não gosto destas merdas. Gosto de tudo ao natural, daquele sexo baunilha para procriar. Fiquei enojado e bastante perturbado ao imaginar alguém a praticar aquelas coisas.

    - Vê-se mesmo que estamos em Bluenation! – Disse Select.

    - Alguém que me ajude, se faz favor! – Pediu o Vítor – Estou a começar a gostar da sensação. Rápido antes que Nosso Senhor veja!

    Simmy e Select tiraram Vítor que já tinha o cú acoplado ao dildo de tal maneira que foi preciso untar-lhe o cú com matinal light para aquela merda deslizar e sair. Mas o padre nem se queixou da dor. Até parecia que fazia aquilo regularmente.

    - Deixem-me benzer porque isto é capaz de ser pecado! – Disse Vítor.

    - Então eu já estou destinado ao Inferno – Respondi eu – Vá, vamos embora daqui. Estão ali umas escadas, vamos subi-las.

    - Ó Filipe – Gritou o Dinis – É capaz deste pepino estar estragado. Estou aqui a trinca-lo há uns 5 minutos e ele não quebra. Vê lá se tem bolor.

    Apeteceu-me deixar o ceguinho ali. Não tinha paciência. E ficava o ceguinho e o Tostas. Antes de subir as escadas tive que lhe explicar mais uma vez quem ele era, quem eu era, onde estávamos e o que estava ele a fazer. Eu não sou babysitter de aberrações.

    - À minha frente antes que eu me arrependa de vos ter trazido! – Gritei.

    Puxei a cega pelo braço e ela embateu na vitrine dos vibradores e esbardalhou-se ao comprido no chão. Enfim.

    Subimos as escadas em caracol. Eu não sabia para onde é que aquilo ia dar, mas não estava muito importado. Só queria sair dali, daquela sala com brisa a bacalhau demolhado da Noruega.

    E quando cheguei lá acima, deparei-me com uma pequena porta no teto. Não foi preciso empurra-la com muita força, ela abriu-se facilmente. Trepei até uma sala muito luminosa, e ajudei os restantes a fazer o mesmo. Era uma casa de banho, toda decorada com peças de porcelana. Mas uma casa de banho grande, bem ampla e muito limpa.

    - Onde é que estamos? – Perguntou o Simmy.

    - Eu não sei, mas não façam barulho – Pedi – Devem haver guardas por aqui.

    Caminhei silenciosamente pelo chão de azulejos até à porta daquela estranha casa de banho. Estava entreaberta. Respirei fundo até a abrir. E descobri o grupo dos retornados todos juntos, numa roda, mesmo no meio da outra sala.

    Entrei de rompante e caminhei até eles, ecoando a melodia dos meus tacões pela sala inteira.

    Mas trau, levei um murro mesmo no meio dos olhos.

    - Ai merda, desculpa! – Disse Diogo – Pensei que era alguém perigoso.

    Mandei-lhe uma ranhada cheia de sangue contra a cabeça e abri-lhe os olhos.

    - O que é que vocês fazem aqui? E que lugar é este? – Perguntei.

    - Isto é o laboratório – Respondeu o Rafa.

    E a roda abriu-se. No meio dela estava um homem de bata, amarrado a uma cadeira, e aparentemente inconsciente.

    - E este é o cientista que nos clonou. É nosso refém agora – Continuou – Não sei se vamos sair daqui vivos. A sala está completamente cercada.


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    Mensagem por Convidado Dom Jul 12 2015, 21:39

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    Pronto, está tudo fodido. Se com o grupo dos retornados já ia ser difícil sair daqui vivo, com os novos concorrentes atrelados ao pescoço ainda mais difícil vai ser. Porque merda tinha o Fifi Purpurina e as outras atrasadas mentais de nos encontrar? Maldita sorte.

    - Comecem já a preparar os vestidos para usar na morgue e lavem-se por baixo, porque é uma vergonha depois de mortos vos terem que passar dodot’s no rabo – Digo – Vamos todos morrer.

    - Mas qual morrer qual quê – Dispara o Filipe – Aqui ninguém vai morrer. Vamos todos sair daqui vivos.

    - Andas a ver muito Inspector Max – Digo-lhe – Não me vai saltar um pastor alemão do cu e desatar a morder os guardas.

    - Não, tu tens mais cara de quem caga caniches – Diz-me.

    Largo a cabeça do cientista e corro em direção ao Filipe, pronto a aplicar-lhe o segundo murro do dia. Bicha caga-tacos, está mesmo a pedi-las.

    - Atreve-te! – Grita-me ele – Ainda para mais não trouxe a base e estou mesmo a precisar de um retoque. Aquela puta ali deu-me cabo da maquilháge.

    - Desculpa miga – Disse o Diogo - Podemos ser amigas forever?

    - Cala a boca e vai bufar poemas para um canto – Diz o Filipe – Aproveita que há bocado o Dinis fez diarreia no canto da nossa cela, que agora já deve estar seca por causa do calor, vais lá com uma picareta raspar uns restos, juntas tudo e fazes uma rubrica do Crónicas. O que achas?

    - Acho fenomenal! – Disse Diogo, entusiasmado.

    Depressa começaram todos a discutir. Estavam todos nervosos por eu ter lançado ao ar que era provável que morrêssemos todos. E eu realmente achava isso. Tínhamos a sala completamente cercada e não havia outras saídas. A nossa única hipótese era tentar negociar, por termos um refém, mas não estava nada otimista.

    - Calma, pessoal! Calma! – Gritei – Precisamos de pensar. Sei que é difícil, pois vocês em lugar do cérebro têm o Sakis Rouvas a dançar o Shake It, mas concentrem-se!

    Após alguns segundos de reflexão conjunta, surgiu a primeira ideia.

    - Já sei! – Gritou o Trufas – Podíamos seduzir os guardas como fizemos com o Bruno Sparks!

    - Não contem comigo – Disse o Zé Miguel – Da última vez que fiz um gang bang acabei nas docas com três quilos de dourada em cima e uma garrafa de Pedras Framboesa enfiada no cu. Fiquei traumatizado.

    - Ai amiga, a isso chamo quintas-feiras! – Disse o Trufas.

    - Essa ideia é estúpida – Disse o Filipe – Por mim fazíamos um tapete de arraiolos com os pelos púbicos do Vítor e escapávamos pela janela.

    - Eu acho que a melhor opção que temos é viver aqui para sempre – Disse o Select.

    - Ou então voltar para trás e fingir que nada disto aconteceu! – Disse o Jota.

    - Posso fazer alguma coisa com as mamas, se quiserem – Disse a Ana.

    - Olá! Eu sou o Tostas! – Disse o Tostas.

    - Já chega! – Gritei eu – Vocês só podem ter sido feitos numa casa de chuto. Cambada de gente inútil! Eu trato disto!

    Pensei durante alguns minutos, enquanto vagueava pela sala em busca de algo que nos pudesse ajudar. Mas não tive ideia nenhuma.

    - Não sei mesmo o que fazer… – Disse eu.

    Até que descobri um dossier azul que me chamou à atenção. “Suplentes”, era a palavra inscrita na primeira página. Peguei nele e comecei a folheá-lo. Lá estavam cinco fichas de cinco pessoas que nunca antes tinha visto. Não foi difícil chegar à conclusão de que se tratavam de concorrentes da Casa da Fome. Mas estes, só entrariam caso alguns de nós morresse antes de entrar para o jogo.

    Mas ali, acontecia tudo ao segundo, e nem tive tempo de investigar mais. O cientista acordou. Olhou em volta, ainda zonzo, e parou o rosto no Jota.

    - Ó Jotinha, sabes que eu não gosto que me raptes desta maneira, eu já te disse que não curto destas cenas – Disse – Tu é que te excitas com isto do sadomasoquismo, és todo adepto do cabedal e do amarranço, mas eu não…

    Jota jogou logo a mão à boca do cientista para o impedir de revelar mais.

    - Vocês conhecem-se? – Perguntei eu de imediato.

    - Claro que não – Disse o Jota – Deve ter sido da pancada. Está maluco.

    Mas nem pensei mais nisso. Queria era questionar o cientista sobre outras coisas muito mais essenciais para mim.

    - O que é isto? – Disse-lhe, empunhando o dossier – Vocês planeavam matar-nos antes de entrarmos? Quem são estes suplentes afinal?

    Aos poucos o cientista foi regressando ao seu estado normal.

    - Chicoteia-me as costas e diz que gostas de quatro, entra-me de rompante e chama-me tartaruga genial… - Murmurou.

    Ok, afinal ainda não.

    - Quem são esses? – Disse ele, a rir – São mais cinco bichas de Aporue em ascensão que estão prontas para entrar caso algum de vós perca o interesse.

    - É isso que nós somos? Produtos para ganhar audiências? – Gritei-lhe – Se não formos mais badalados em Aporue, matam-nos?

    - Olá! Eu sou o Tostas!

    - CALOU! – Gritei.

    Mandei-lhe uma joelhada tão grande que o miúdo foi parar ao outro canto da sala.

    - Sim, é isso que vocês são – Confirmou o cientista – Se se tornarem desinteressantes, estão fora. E esses cinco ocupam o vosso lugar.

    - E quem são eles, Rafa? – Perguntou-me o Filipe.

    Não tive tempo de responder. Os guardas começaram a investir pela porta principal do laboratório. Estavam a arromba-la e o nosso tempo escasseava.

    - Ajuda-nos – Supliquei ao cientista – Ajuda-nos a sair daqui!

    Ele riu-se. E eu peguei num frasco de ácido sulfúrico e coloquei-o em cima da cabeça dele. Todos os outros fugiram e se colocaram junto à janela, não fosse saltar um bocado e queimar um mamilo desprevenido.

    - Ou nos ajudas a escapar ou ganhas um penteado novo, só que este até te descalcifica os tomates – Ameacei.

    Ele ficou muito sério. E desatou a dizer tudo, cagado de medo.

    - Há uma porta no chão abaixo daquela cadeira, ali ao fundo. É um caminho secreto. Ele vai levar-vos até à mata que circula o laboratório.

    - Olha! Uma porta! – Gritou o Tostas.

    - Onde? – Perguntou o Dinis.

    - O que é uma porta? – Perguntou o Tostas.

    - E depois? – Gritei – Vamos parar à mata, e depois o que fazemos? Quero sair com vida desta história.

    - Depois fogem 10 quilómetros para norte até ao porto. Lá apanham um barco, que vos vai levar até Katarsk. Lá é impossível a guarda de Bluenation vos apanhar. Estão salvos. Estão finalmente livres – Disse-me ele.

    Olhei-o nos olhos. Ele parecia estar a dizer a verdade.

    E os guardas investiram novamente na porta. O cagaço resultou num movimento brusco da minha parte, e o copo com ácido voou no ar, até se partir em cima do Select.

    - Está a ficar calor ou é impressão minha? – Perguntou ele.

    Em poucos segundos a cara do Select derreteu. E o choque daquela visão provocou uma onda de gritinhos bicha supersónicos frequência golfinho do Zoomarine.

    - Calma! – Pedi eu, apesar de estar ainda mais nervoso que eles – Vamos fazer o que o cientista disse. Vamos fugir daqui!

    A porta rachou. Não havia tempo a perder.

    O Diogo já tinha aberto a porta e escapado em direção à passagem secreta, o Trufas e o Zé Miguel, de mão dada, seguiram também, o Dinis caiu lá sem se aperceber e o Tostas foi atrás dele depois do Filipe o empurrar. Pedi ao Jota para descer primeiro que eu.

    Mas quando me preparava para fugir também, os guardas entraram pelo laboratório adentro e eu fechei a porta num ápice para proteger aqueles que conseguiram escapar a tempo.

    Mas eu, o Vítor, o Simmy, a Ana e as gémeas siamesas ficamos por aqui. Mas não fomos mortos. Fomos enviados de novo para a nossa cela, condenados novamente à Casa da Fome. Aos sete que ainda estão em luta pela liberdade, desejo sorte.


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    Mensagem por Convidado Sáb Jul 18 2015, 00:46

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    Mas este túnel nunca mais acaba? Já lixei um dos saltos, Loubotin, vejam só! E ainda por cima este véu que tenho por cima da cabeça ficou preso ali numa teia de aranha e agora tenho uma tarântula a fazer-me cócegas no escalpe. Maldita a hora que decidi embarcar nesta aventura!

    - Ó Trufas, eu sei que o casamento gay já é legal, mas quem é que quer casar contigo? – Lançou-me o Jota – Porque é que andas sempre de véu na cabeça?

    - Queres mesmo falar sobre isso, Jota? Tu que pareces um prepúcio de um preto com olhos? – Lanço.

    Gentinha de baixo nível. Estou cansado deles. Quero os meus amigos e a minha casa de volta. Mentira que eu não tenho amigos e sou sem-abrigo.

    - Então mas isto vai demorar muito? Os meus calos já ganharam vida e já estão praqui a cantar o Malhão! – Disse - Ainda se fosse uma Taylore Swifte.

    Ninguém me respondeu. O Filipe, que ia a comandar as operações, lançou-me o dedo do meio no ar. Estúpida, tás aqui tás a levar com uma pizza.

    Pizza. Ai pizza. Que fome que eu tenho. Normalmente só tenho fome de pila, mas agora é fome de tudo. O que eu dava por uma francesinha banhada com chuva dourada. O que eu dava por uns pastéis de belém. Mas isto até tem sido fantástico para a minha dieta. Já perdi 10 quilos desde que aqui estou! Estou cada vez mais perto da minha meta: 29. Quero ficar magérrima, ao ponto de se conseguir tocar Bad Romance versão xilofone com as minhas costelas.

    - Alguém está a ver uma luz também? – Pergunta o Filipe.

    - Eu não! – Responde o Dinis.

    - O que é ver? – Pergunta o Tostas.

    - Ai querida, à outra falta-lhe um sentido e tu deves ter um sexto e ele é com certeza a estupidez – Respondo eu – Olha ali, ali ao fundo! Olha uma luz brilhante a anunciar a nossa liberdade!

    - Liberdade! – Gritamos todos em conjunto.

    Começamos a correr em direção à luz, como se ela fosse o nosso oásis. E lá encontrava-se uma pequena escada, que subimos sem quaisquer medos ou hesitações. E lá estava: A floresta que circundava o laboratório. Era nela que agora que estávamos, finalmente a respirar o ar puro e livre que há tanto esperávamos.

    Vimos um pequeno lago junto a uns arbustos e corremos para saciarmos a sede. Eu aproveitei também para tirar umas nódoas que tinha na saia porque era uma vergonha andar ali naquele estado. Depois ficámos vários minutos a tomar conta das nossas necessidades fisiológicas, que finalmente poderiam ser feitas com maior privacidade. O Jota arredou a burca para cima e cagou-se no pinhal, o Tostas mijou-se todo porque se esqueceu do significado da palavra desabotoar, o Dinis urinou para cima do Zé Miguel, julgando que ele era uma árvore (facto que não o chateou muito), e eu, menino fino, areei de cócoras um cocózinho discreto atrás de umas ervas que me apercebi, tarde demais, serem urtigas. Fiquei mais de meia hora a coçar o ás de copas e a tomateira.

    - Então e agora? – Perguntou o Zé Miguel – O que fazemos?

    - 10 km para Norte até aos barcos. Depois fugimos para Katarsk – Respondeu o Filipe.

    - Ai que óptimo! Tenho muitas amigas em Katarsk! – Gritou o Zé Miguel.

    - Tá calada que ainda somos descobertas! – Gritei eu - Silêncio!

    Bem dito bem feito. Ouvimos uma sirene da polícia a vir na nossa direção. Os guardas estavam à nossa procura. Eu e o Zé começamos a gritar fininho cheias de medo e o Tostas e o Dinis, desorientados, começaram a andar em círculos.

    - Caluda! Vocês as duas escondam-se atrás dessa árvore e dessas retamas – Ordenou o Jota - Diogo, vai enfiar-lhes as mãos nas bocas.

    - Com todo o prazer! – Disse Diogo, enquanto desapertava as calças.

    - As mãos! – Gritou Jota - Haja paciência para esta bicharada que só pensa em sexo! Essas amostras de gente vão continuar a gritar e vamos ser descobertos. Precisam de alguém que as ponha na linha. Eu e os restantes vamos tapar-nos debaixo da minha burca e rezar à santa protetora das bichas em fuga.

    - Ai mas isso existe? – Perguntei eu, curiosa.

    - Sim amiga, é originária da Reboleira! – Responde o Zé – Costumo até andar com a cara dela estampada lá. Veste um manto multi-color e tem uma coroa de espinhos Versace banhada em ouro e com diamantes Swarovski. Santa protetora das bichas em fuga que estáis nos céus, santificado seja o vosso salto alto, venha a nós o vosso colar emprestado, seja feito o vosso buço, assim na terra como na Sónia Cabeleireiros, o glamour de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos a nossa celulite, assim como nós perdoamos a celulite das outras, deixe-nos cair em tentação, e livrai-nos da vulva. Vogue.

    - Vá! Mexam-se! – Grita o Filipe.

    E assim foi. Eu, o Zé Miguel e o Diogo escondemo-nos atrás de uma árvore, junto a um caminho de terra batida, tal como o Jota nos tinha indicado, e os restantes foram para bem longe. Desaparecendo no escuro da mata.

    Espera aí. Alguma coisa aqui não está a bater certo.

    - Nós somos mesmo parvas! Então os outros fugiram e deixaram-nos aqui! – Gritei eu – É por estas e por outras que me faz falta a quarta classe!

    Mas já não valia a pena. Os guardas chegaram a toda a velocidade pelo caminho de terra batida e apanharam-nos, colocando-nos de volta na cela e na Casa da Fome, tudo por culpa de um plano espontâneo criado por Jota. Aos quatro concorrentes que restam… desejo todo o azar do mundo!


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    Mensagem por Convidado Dom Jul 19 2015, 21:07

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    A nossa viagem pela floresta de Bluenation não estava a ser fácil. Estas árvores escondem segredos mortíferos e aterradores, e eu, sinceramente, não estava preparado para isto.

    Restamos quatro. Eu, o Jota, o ceguinho Dinis e o memória-de-peixe Tostas. Duas pessoas focadas e as únicas com cérebro totalmente desenvolvido no meio de todos os concorrentes, e duas mongoloides. Deus dá-me a mão mas pisa-me os calos ao mesmo tempo.

    Não podemos caminhar muito rápido porque os guardas do laboratório colocaram inúmeras armadilhas nesta floresta para prevenir a nossa fuga. Estava tudo pensado ao pormenor para capturar qualquer bicha que se atrevesse a sair da cela e a fugir até aos portos para chegar a Katarsk. Tudo personalizado para atrair maricas para tudo o que era arma fatal.

    Logo depois de deixarmos as outras três serem capturadas, encontramos a nossa primeira barreira: Um unicórnio arco-íris que peidava glitter, preso a uma árvore por uma das patas, mesmo em baixo de uma cama de espinhos. Para salvarmos o unicórnio teríamos de tocar num botão, coisa que me apressei a fazer, mas depressa o Jota me avisou que esse botão ativaria também uma outra armadilha para nós. Mais à frente fomos atraídas pela voz suave e caliente do Sakis Rouvas, que ouvíamos ao longe. Fomos entusiasmadas aos saltinhos para descobrir de onde vinha o som, e deparamo-nos com uma ravina que ia cair num de lago de crocodilos de Haarhus. Tive que pegar o Dinis pelo rego para ele não cair precipício abaixo. Depois fomos seduzidas com saltos da nova coleção da Prada, uma mala Marc Jacobs e tiaras de diamantes. Mas as mesmas tinham um veneno mortal que fazia desmaiar qualquer um que lhes tocasse. Ainda fomos surpreendidas por armadilhas caídas das árvores, dardos tranquilizantes (feitos com mijo de Zé Miguel misturado com acetona) e inúmeros buracos no chão, que nos esquivamos graças à ajuda de Jota, que parecia conhecer cada canto daquela floresta.

    Mas hoje não tivemos tanta sorte. Estamos há duas horas a tentar tirar o Tostas de uma armadilha onde ele prendeu a perna.

    - Estou a ficar com frio – Disse o Tostas – O que é isto?

    - Pela centésima vez, isso é a tua perna presa a uma armadilha. Preciso que a puxes enquanto fazemos força e abrimos isto! – Gritei-lhe.

    Mas o miúdo, de cada vez que abríamos a armadilha de metal, não se mexia.

    - O que é puxes? – Perguntou – Estou a ficar com frio.

    - Epá, eu por mim amputamos-lhe a perna e pronto – Disse o Jota – De qualquer das maneiras já somos a brigada dos deficientes. Mais uma perna, menos uma perna…

    - Olá! Eu sou o Tostas! – Disse o Tostas.

    - Sim, tá bem – Disse eu – Amigo, se não fizeres o que te mandamos, vamos ter que te cortar a perna com uma tesoura do peixe.

    - O que é isto? – Perguntou ele.

    - Isso é a tua perna presa a uma armadilha – Disse o Dinis.

    - Ah ok! – Disse o Tostas – Peço desculpa, eu sofro de memória curta!

    Ficou calado durante alguns segundos.

    - Olá! Eu sou o Tostas! – Disse.

    Desta vez foi Jota a bater-lhe. Mas com força a mais. Pregou-lhe um pontapé tão grande na nuca que o rapaz acabou por desmaiar.

    - Olha, pode ser que assim o consigamos tirar daí – Disse Jota.

    - Olá! Eu sou o Tostas! – Disse o Tostas, que acordou de repente – Tenho frio. O que é isto?

    - É a tua perna presa a uma armadilha, caralho! – Gritei eu – Estou farto. Eu não aguento mais isto. Tratem vocês dele! Eu vou-me embora! Não nasci para isto! Nasci para a fama, para o luxo e para a riqueza! E onde estou eu agora? Numa floresta com cheiro a virilha suada com um gajo que mais parece uma cria de uma foca com atraso mental, um cego que todas as noites me lambe o forro dos colhões a julgar que é manga, e da arábia saudita com pernas que és tu, ó Jota.

    - E eu não estou farto? Pensas que és só tu? – Lançou-me ele – És a rainha do queixume, tu. A vida aqui é fodida para todos, aguenta-te! Estamos prestes a chegar ao porto e depois fazes o que quiseres da tua vida, de preferência longe de mim!

    - Cheira a fumo – Disse o Dinis – E não estamos longe do fogo.

    Finalmente a cega me deu jeito. Seguimos o faro do Ray Charles de Bográvia e encontramos uma pequena casa de madeira nas profundezas da floresta. Ficámos encantados. Era a nossa oportunidade de comer e beber alguma coisa e de passar uma noite descansada longe dos perigos da mata.

    - Então e o Tostas? – Perguntou o Jota.

    - Olá lá lá lá… - Ouviu-se em eco, ao longe – Eu sou o Tostas ostas ostas…

    Nem pensei duas vezes.

    - Caga nela – Disse – Só nos empata.

    O Jota nem se opôs. Subimos os degraus e batemos à porta. Estávamos ansioso para descobrir quem morava ali, mas mais ansiosos por desfrutar daquilo que aquele refúgio nos ia dar. Mas a porta não nos foi aberta.

    - Será que não está aqui ninguém? – Perguntou o Jota.

    - Eu não estou a ver ninguém – Disse o Dinis.

    Rodei a maçaneta da porta e percebi que estava destrancada. Decidi entrar. Não íamos fazer mal a ninguém, portanto não havia qualquer problema. Entrámos e deparamo-nos logo com uma sala enorme, onde estava acesa uma grande lareira. Sofás lindos e com ar de serem caríssimos e mobília a brilhar à luz do fogo. A cozinha estava recheada de comida, da qual nos servimos e devoramos em poucos minutos. Era o paraíso, era o oásis.

    - Será que vive aqui alguém? – Perguntei eu – Se calhar está lá em cima a dormir e nem deu conta da nossa entrada.

    - Vamos ver então. Mas com calma – Pediu o Jota – Dinis, fica aqui. Não nos dá jeito ser cães guia agora.

    Fomos de passos curtos e calmos até à sala, para tentar descobrir quem lá vivia. Mas não havia pistas. Decidimos então subir e vasculhar os quartos.
    Só havia um. A porta estava entreaberta. As luzes apagadas. O quarto era só iluminado pela lua, que se focou quase exclusivamente num pequeno berço ao centro da divisão.

    E eu avancei. Devagar. E quando cheguei ao berço nem queria acreditar em quem vi lá deitado: Era o Ivo.


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    Mensagem por Convidado Sex Jul 24 2015, 18:16

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    UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE NThPIPC


    Peguei no Ivo ao colo, e ele saudou-me com um vomitado quentinho no peito. Apesar de ter vontade de o mandar janela fora, era quase impossível resistir ao seu encanto de bebé. Então, limpei-lhe a boca e o meu páreo e embalei-o até ele adormecer.

    O Jota ficou sentado na cama a pensar no que poderia ter acontecido, e o Dinis ficou ao seu lado, a olhar para o chão. Só a olhar, porque, pronto…

    E eu, após pousar o Ivo de novo no berço, fui até à janela de onde se via a lua a rechear o céu. Como poderia um bebé ter ido ali parar? Como é que o Ivo escapou da masmorra? Quem é que o trouxe até ali? Nada fazia sentido. A Casa da Fome era cada vez mais enigmática para mim.

    Mas a resposta que queria apareceu ao longe, vinda do escuro da mata. Uma silhueta surgiu das árvores e enrolou-se na sombra delas. Era um homem, percebia-se pelos ombros largos e pela imensa altura. Mas não percebi quem era. Só percebi que caminhava para a casa com um javali morto nas mãos.

    - Temos de fugir daqui – Disse prontamente – Não sei quem ele é nem o que nos pode fazer. Vamos!

    Era tarde demais para fugir. A porta bateu, ele tinha entrado. Deve ter dado conta, ao longe, que a porta estava aberta e correu para achar os ladrões. E eu, de cú tremido, comecei a rezar à Santa Protetora das Bichas em Fuga, com a oração que ouvi do Zé Miguel.

    - Cala-te! – Murmurou Jota – Assim é que vamos mesmo ser descobertos! Escondam-se todos aqui debaixo!

    - Aqui onde? – Perguntou o Dinis em pânico.

    - Aqui! – Gritou o Jota.

    - Onde? Não ‘tou a ver nada! – Gritou o Dinis.

    - Porra! – Disse Jota, enquanto puxou Dinis pelo colarinho e o enfiou debaixo da cama larga – Calem-se, por favor.

    Mal nos calámos, o homem entrou quarto adentro. Abriu a porta com agressividade na esperança de encontrar alguém ali dentro, mas ao dar conta de que o quarto estava vazio, foi mexer no berço para sossegar o sono de Ivo. Deu-lhe um beijo na testa e voltou para lá para baixo.

    - É o Kiko – Disse Dinis.

    Fiquei incrédulo. Como poderia o Dinis saber que era Kiko?

    - Aquele cheiro a alho queimado é-lhe característico. Tenho a certeza que é ele – Prosseguiu – E matou alguma coisa. Cheirou-me a sangue.

    Só ali dei conta das vantagens de ter um cego comigo.

    - Mas o que faz aqui o Kiko? Ele disse-nos que ia ficar na cela! – Gritei eu.

    - Mas não fiquei – Respondeu o Kiko.

    Puxou-me pelas calças e tirou-me debaixo da cama. Fez o mesmo ao Jota e à ceguinha dos cheiros e encostou-nos à parede onde a janela estava aberta. Senti que nos ia empurrar e que íamos morrer.

    - Peguei no Ivo depois de vocês terem fugido e saí pelos canos. Afinal parece que a ideia do Rafa de escapar por lá não era assim tão má – Disse – Eu sabia que escapar com vocês só me iria dar trabalho.

    Tive um flashback. Parecia aquele dia em que o Kiko tinha anunciado que ia voltar para o NSC 100 quando já todos pensavam que ele nunca mais ia dar sinais de vida. O meu estômago deu três voltas e senti uma tontura.

    - E agora podemos ficar aqui e fugir todos juntos! – Disse Jota.

    Kiko riu. Parecia uma galinha.

    - Não. Vocês vão voltar para a cela e eu é que vou escapar para Katarsk e ser lá feliz com o meu filho – Disse.

    - O Ivo é teu filho? – Perguntei eu, chocado – Adotivo, só pode. Que mulher é que quer ter um filho teu?

    - Olha a tua mãe não se queixou ontem à noite.

    Saltei-lhe para cima, mas eu era tão frágil em comparação com ele que acabei estendido no chão após me aplicar o mais duro dos murros na testa.

    - É adotivo sim. Mais ninguém cuidava da coitada da criança e eu decidi tomar o comando das operações. Ele agora está a meu cargo – Disse Kiko – E vocês vão ficar amarradas até eu chamar os guardas para vos voltar a prender.

    Pegou em mim e no Jota e prendeu-nos com cordas a duas cadeiras de madeira, mesmo ali no quarto. O Dinis ficou tão atrapalhado e assustado com a situação que ficou todo esse tempo a tentar escapar, mas acabava a bater com a cabeça na parede. Depois foi também preso às nossas cadeiras.

    - Vou fazer uma chamada anónima para vos denunciar. Não vale a pena tentarem escapar porque essa corda é feita de pentelheiras de Loveslandia e tem uma resistência incrível!

    Foi até lá abaixo e telefonou para os guardas. Foi percetível toda a conversa. Depois, subiu até ao quarto e enrolou Ivo à sua volta com uma manta, pegou numa mochila e preparou-se para fugir.

    Eu não consegui fazer nada. Era impossível mexer-me um centímetro sequer. Mas senti o Jota a tentar escapar. Mexeu nas cordas com as mãos e libertou-se

    - Vá! Agora liberta-me a mim! – Pedi-lhe.

    - Não.

    Fiquei incrédulo.

    - Não? Estás maluco? Liberta-me! – Gritei.

    - Não te quero connosco – Disse.

    Tentei levantar-me mas era impossível. Fiquei encarnado de raiva. Não queria acreditar que ele me ia deixar ali.

    - Depois de tudo o que fiz por ti? Depois de ter guiado este grupo até esta casa? É esta a tua paga por tudo isso? – Gritei-lhe.

    - Tu é que nunca te apercebeste de que fui eu a guiar-te até aqui.

    E despiu a burka, revelando a sua cara.

    - Oh Meu Deus... tu não és o Jota – Murmurei eu, atónito.

    - Quem é? Digam lá que eu não estou a ver nada! – Disse o Dinis.

    - É o Pete.

    - Bem me parecia que o Jota não cheirava tão bem! – Disse o Dinis.

    - Foste sempre tu? Durante estes meses todos? – Perguntei eu.

    - Não. Enquanto vocês se decidiam sobre o que fazer, à porta das celas, eu troquei de lugar com o Jota. Ataquei-o e despi-lhe a burka. E fingi ser ele até chegar ao meu objetivo: esta casa. Agora é hora de vos deixar e de partir com o meu homem e o nosso filho.

    - Um carro apitou lá em baixo. Era Kiko que esperava por Pete. Tinha sido tudo combinado até ao mais pequeno pormenor.

    - Adeus e boa sorte na Casa da Fome.

    E saiu a correr.

    Fiquei tão aterrorizado pela situação que nem me mexi durante alguns minutos. O Dinis fez inúmeras perguntas para o ar mas eu nem as ouvi. Fui enganado durante este tempo todo. Tratado como um objeto.

    - A polícia está a chegar. Consigo ouvi-los ao longe – Disse o Dinis.

    E foi aí que decidi não desistir. Com toda a força que me restava, arrastei-me pelo chão até às escadas, com as cadeiras e o Dinis preso, caí pelos degraus e fui parar lá abaixo, onde, entre dores terríveis e um cansaço extremo, cheguei até à lareira e meti as cadeiras ao fogo. Elas entraram em combustão e os cabos derreteram.

    - Pentelheira de Loveslandia pode ser resistente à força, mas derrete como gelo ao fogo! – Gritei eu, vitorioso.

    Peguei no Dinis pelo braço e caminhei até à porta. Não faltava muito para chegarmos ao porto de Katarsk.

    Rasguei o meu páreo e prendi a minha mão à do Dinis, e disse-lhe que se preparasse para correr. E lado a lado iniciámos uma corrida desesperada, seguindo as marcas dos pneus que o casal tinha deixado para trás.



    AINDA EM CORRIDA PELA SEGUNDA OPORTUNIDADE:
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    UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE Empty Re: UMA SEGUNDA OPORTUNIDADE

    Mensagem por Convidado Seg Jul 27 2015, 15:25

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    Corri como nunca tinha corrido na minha vida. Senti até os saltos Prada a rasgar e a serem projetados no ar até caírem em cima da cabeça do Dinis, para quem a corrida estava a ser um suplício. A certa altura do nosso trajeto, o Dinis caiu e foi de rojo durante boa parte do caminho. E eu, para o convencer de que estava tudo bem, disse-lhe que aquilo era um tratamento facial asiático.

    - Mas dói tanto! – Gritava ele, arrojando-se pelo chão.

    - Quanto mais dói mais cura! – Disse-lhe.

    Não me lembrava de ser tão forte. Consegui correr sem parar durante mais de um quilómetro, carregando o Dinis com a mão direita. A raiva e o desespero eram o meu motor naquele momento crucial da minha vida: Se conseguisse escapar até Katarsk, era livre para sempre. Se ficasse pelo caminho, teria de me submeter à forca que é a Casa da Fome.

    A floresta ficava cada vez mais negra. Pensei até ter ido pelo caminho errado, mas as marcas de pneu indicavam-me que era por ali. Até que cheguei a um ponto em que as marcas desapareceram e o Jipe estava encostado a uma enorme árvore, com as portas escancaradas e as marcas dos passos do casal impressas na terra molhada. Percebi que tínhamos chegado a um pequeno pântano.

    - Vá, agora vamos chegar à fase do tratamento em que usamos argila – Disse ao Dinis – Respira fundo.

    Juntei todas as minhas forças e entrei lama adentro, mas cedo me apercebi de que tinha sido a ideia mais estúpida da minha vida. O Dinis afundou-se rapidamente e eu fui atrás. Comecei a lutar pela minha sobrevivência. O meu corpo ficou rapidamente submerso e tornou-se impossível mover as pernas. Fiz um esforço hercúleo para chegar à margem mas não deu. Fiquei preso naquela piscina de lama. E o Dinis ao meu lado também, a achar que estava num SPA das Penhas Douradas.

    - É o nosso fim. A polícia vai chegar e nós aqui presas – Disse eu, à beira do choro.

    - Que visão linda – Diz o Kiko, junto à margem – A maricas e a ceguinha presas pela cintura à banheira do Shrek. Burras! Olhem ali uma ponte! Mesmo ao vosso lado!

    Ele tinha razão. Estava uma ponte mesmo à nossa esquerda. É por estas e por outras que me faz falta um curso superior.

    O Ivo começou a chorar.

    - É do supositório meu amorzinho? – Disse o Pete – Tem calma que logo passa!

    - Tirem-nos daqui, por favor! O que é que eu te fiz para me quereres tão mal? Nós nem nos conhecemos! – Disse para Kiko, desesperado – Eu faço tudo aquilo que quiseres!

    - De certeza? – Perguntou o Kiko - Tudo?

    - Sim! Tudo! – Supliquei.

    - Tudo tudo tudo? – Perguntou mais uma vez.

    - Sim! Tudo tudo tudo! – Disse eu.

    - Deixas-me participar no teu Second Chance?

    - Ai mas é que nem penses! – Disse logo.

    - Então adeus – Disse Kiko.

    Arrependi-me logo de seguida. Comecei a chorar desesperadamente, desci a um nível tão baixo de pedinte que por momentos me senti o Carlos Coelho a pedir laikes para o facebook.

    - Pronto! Eu deixo! Ajuda-nos a sair daqui! Por favor! – Gritei, entre lágrimas gordas e ranhoca.

    Kiko olhou Pete e sorriu. Pegou numa corda, vinda do além, e atirou-nos. Prendi o Dinis à corda e o casal puxou-nos até nos conseguirem libertar. Estava livre. Tinha mais uma oportunidade.

    - Obrigado! Obrigado! – Gritei eu, aos pés de Kiko.

    - Olha… já que estás aí… - Disse Kiko.

    Senti uma coisa pontiaguda a picar-me a cara.

    - Mama isto! – Gritou-me.

    Sacou de um canivete e tentou furar-me a cara, mas eu desviei-me a tempo e só me atingiu uma orelha. Entretanto a polícia chegou à outra extremidade do pântano e deu conta da nossa presença. Kiko e Pete começaram a correr, com Ivo ao colo, e o Dinis, sem saber o que se estava a passar, começou a correr também, mas na direção errada, caindo novamente dentro do pântano.

    E eu não hesitei. Prendi a mão na orelha e segui o casal. Senti-me uma mistura de Francis Obikwelu com Van Gogh.

    Depois de mais de 5 minutos de corrida desenfreada, de terríveis dores e de muito sangue perdido, cheguei ao porto de Bluenation. Lá já estava uma pequena lancha a motor à espera de Kiko e de Pete, que encomendaram antes de sair da casa da floresta. Eles poisaram o Ivo no barco, entre umas mantas, e subiram a umas rochas para desatar a corda que prendia a lancha a terra.

    E eu aproveitei esse momento para chegar até ao barco, gatinhando pelo chão até ele, e quando lá cheguei não pensei duas vezes. Fugi.

    Kiko e Pete desceram das rochas e entraram no barco. E fugiram também.

    Só em mar alto é que se aperceberam de que lhes faltava alguma coisa. E era tarde demais para voltar atrás e recuperá-la.

    Era Ivo. Que descansava agora nos meus braços.

    Caminhei para dentro da floresta e fui capturado pela polícia. Estava de volta à cela e à Casa da Fome.


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